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Magia, expectativa, sonho e graça: crítica da peça “Todos os Musicais que Nunca Fiz”

Crítica da peça “Todos os Musicais que Nunca Fiz”, texto produzido durante a oficina “Olhares: Poéticas e Possibilidades da Crítica Teatral”, curso gratuito de extensão cultural da SP Escola de Teatro, ministrado por Amilton de Azevedo. A peça foi assistida durante o Festival Satyrianas 2023, em outubro de 2023.

É quase como um número de mágica: a luz diminui para o espetáculo começar, ficamos esperando alguém entrar pelo pano preto que há no fundo da sala, diante de nós, mas o som vem de trás. Todos se viram. É a atriz, Marília Lourenço, que, de meia arrastão, body e luvas até o cotovelo, começa a cantar. A escada parece ter sido feita para aquele número. Aos poucos, Marília vai chegando à nossa frente e, quando finalmente nos viramos de volta, já há dois bailarinos esperando por ela, mais uma vez quebrando a expectativa de quem acabou de ver o palco vazio.

A abertura é de glamour, mas a peça narra um percurso muito pouco glamoroso: o de uma atriz de musical que, mesmo tendo certeza de que nasceu para aquilo, de que é talentosa, de que aquele é o seu lugar, tem todas as suas expectativas frustradas e simplesmente não consegue ouvir um “sim”. O jeito é, entre uma audição mal-sucedida e outra, levar os próprios fracassos para o palco.

Nessa narrativa, a quebra de expectativa tem ainda outra função: trazer humor. É o que acontece, por exemplo, quando I will always love you, da Whitney Houston, interrompe a cena e só depois entendemos que se trata do toque do celular da personagem. Ou, ainda, quando ela conta que foi ao show da Liza Minnelli, de quem sempre foi fã, e depois explica que, na verdade, era uma drag queen e não a cantora homônima.

Algumas das músicas cantadas em inglês são mais conhecidas. Outras, como Breathe, de “In the Heights” (lançado no Brasil como “Em um Bairro de Nova York”), nem tanto. Como consequência, o público geral, menos familiarizado com musicais (ou que simplesmente não entende o idioma), acaba sendo parcialmente excluído de alguns pontos da história. As músicas em português, no entanto, fazem a narrativa avançar sem parecerem decorativas, e a música autoral que a personagem canta para explicar que se chama Marília e não Marisa (como insistem em chamá-la) é particularmente divertida.

É quase como um número de mágica: nessa peça, dois bailarinos viram todo um corpo de dança, uma escada nos fundos de uma sala da SP Escola de Teatro vira a de uma entrada triunfal em um teatro da Broadway, os musicais nunca feitos viram um musical realizado e as tragédias da vida viram comédia e encanto. É quase como um número de mágica, mas é teatro: o lugar onde é possível sonhar de olhos abertos. E, em “Todos os musicais que nunca fiz”, é o que fazemos.

Ficha técnica 

“Todos os Musicais que Nunca Fiz”, de Gabriel Natividade e Marília Lourenço. Com Marília Lourenço. Direção de Gustavo Klein.

Thamires Araujo é dramaturga, atriz e tradutora. Pós-graduada em Dramaturgia pelo Célia Helena, técnica em Teatro pelo Indac – Escola de Atores e bacharel em Letras pela Universidade de São Paulo. Atualmente, estuda Dramaturgia na SP Escola de Teatro.

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