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Entrevista com Luz Ribeiro, uma das vencedoras do Prêmio Solano Trindade 2023

Em 25 de julho, às 19h, a SP Escola de Teatro e o Selo Lucias lançam a coletânea de três dramaturgias premiadas no Prêmio Solano Trindade 2023.

A atriz, poeta e dramaturga Luz Ribeiro, também estudante de Dramaturgia da SPET, foi uma das vencedoras dessa edição do prêmio, com a peça “VINTE E TRÊS: [encruzilhada no tempo: cênico, da memória e da realidade]”.

No dia, o livro será distribuído gratuitamente ao público e também estará disponível para download na internet.

Também estão abertas até 23 de agosto as inscrições para a edição 2024 do prêmio. 

Leia a entrevista com Luz Ribeiro:

O seu texto vencedor foi o “VINTE E TRÊS: [encruzilhada no tempo: cênico, da memória e da realidade]”. Poderia nos falar um pouco dele? O que os leitores podem esperar quando o livro sair em julho?

Ele surgiu dentro da SP Escola de Teatro, durante os experimentos finais de semestre, onde trabalhamos com estudantes de todas as linhas de estudo. Escrevi “VINTE E TRÊS” em 2022, no meu primeiro semestre na escola, e foi meu primeiro texto dramatúrgico. Nos semestres seguintes, eu o retrabalhava, buscando hiatos a serem preenchidos. O texto vai falar principalmente do genocídio da população preta. Falar da mortalidade de uma raça é muito doloroso, mas o texto tem muito lirismo e poesia. Precisamos contar essas histórias até que esse genocídio, que está em curso há 500 anos, seja revisto e reescrito. É necessário que muita poesia seja colocada em cada palavra para que quem promoveu esse crime escute tudo, se dê conta, assuma a responsabilidade.

E como foi o processo de escrita da peça?

O texto foi tomando forma ao longo dos semestres dentro da SP Escola de Teatro. Os apontamentos do Willi Vérsi, artista docente convidado da Dramaturgia, e da Marici Salomão, coordenadora, foram essenciais. Eles possuem bagagens muito diferentes e complementaram meu trabalho. A cada experimento e semestre, eu voltava ao texto e buscava o que não tinha sido dito, o que precisava mudar. Sou do candomblé e tenho compromisso com minha fé. Minha palavra é um jeito de imantar futuridades.

Quais são as suas grandes inspirações dramatúrgicas, seja escritoras(es) do Brasil, de fora, do passado, do presente etc., e outras inspirações artísticas que agregam na sua literatura?

Uma das minhas inspirações é o dramaturgo Lucas Moura. Escolhi a SP Escola de Teatro por causa dele. Hoje é uma pessoa que posso chamar de amigo, pensar em projetos juntos. A Dione Carlos é outra grande referência. Ela tem essa coisa da palavra que vai para um lugar que não é óbvio e ainda assim é acessível. Também cito a Claudia Schapira, do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos.

Como tem sido o curso de Dramaturgia da SP Escola de Teatro? Quais tem sido seus aprendizados?

É um curso muito desafiador. Você precisa conciliar o que é sua inspiração, o que é interno seu, com o que é externo. Porque no semestre você precisa trabalhar com um eixo, um proposta pedagógica etc. Eu sempre achei que soubesse escrever, minha escrita foi forjada desde os 15 anos, quando comecei a participar do mundo de saraus e slam. Mas eu queria estudar na SPET para aprender mais a técnica, aplicar a  técnica ao que eu sabia fazer. E eu não subestimo a escrita. Amo escrever, sou poeta, trabalho com isso, então fui buscar mais inspirações, as palavras foram me exigindo mais coisas durante a vida. Fui estudar atuação, depois fui buscar a dramaturgia.

Por que você optou pela literatura e pelo teatro? O que te move como artista?

Não acho que optei, não tive escolha, é algo meu. Minha mãe sempre me mostrou a importância das palavras, cresci com ela me contando histórias, cantando suas canções. É uma coisa que tenho desde cedo. E eu falo que escrevia desde cedo para me curar. Antes de saber nomear as coisas, eu escrevia pensando em racismo, em classismo. A palavra me move. Sonho cada vez que escrevo. E só posso acreditar naquilo com que posso sonhar.

Quais dicas você daria para outras escritoras e escritores negras e negros que também estão começando e desejam escrever novas peças, desejam participar do Prêmio Solano Trindade?

Só escreve. Escreve e vai embora. E lembre-se que nenhum fazer da pessoa preta é em solitude totalmente. Cada vez que a gente para para fazer alguma coisa, tem muito ancestral junto que sonhou com a gente. Gosto de pensar nesse lugar de sonhar. Sonhar o que a gente ainda não leu. Precisamos escrever novas histórias e narrativas, entender a palavra como um encante contínuo que não cessa. Então escrevam, se inscrevam no prêmio, façam novos cursos, contem novas histórias.

+ Entrevista com Djalma Júnior, um dos vencedores do Prêmio Solano Trindade 2023

+ Leia os livros com as dramaturgias premiadas em 2020, 2021 e 2022 na página do Selo Lucias

Sobre o Prêmio Solano Trindade

O Prêmio é uma homenagem ao poeta, dramaturgo e diretor pernambucano Solano Trindade (1908-1974). Arte-ativista das causas negras, Trindade foi o criador do Teatro Popular Brasileiro (TPB), grupo formado por operários, domésticas e estudantes e que tinha como inspiração algumas das principais manifestações culturais do país. Atuou também na dança, criando em meados dos anos 50 um grupo referencial: o Brasiliana, reconhecido no Brasil e em temporadas no exterior.

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