Um X representando um atalho para fechar o menu
Notícias > Exibir Notícia

Entrevista com Clarissa Roberta, uma das vencedoras do Prêmio Solano Trindade 2025

Acontece nessa quarta-feira (3) na Unidade Roosevelt da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco o lançamento do livro “Eternizar em Escrita Preta – Volume 6”, mais uma edição das Coletâneas Solano Trindade.

O livro, publicado pelo Selo Lucias da SP Escola de Teatro e distribuído gratuitamente impresso e online, traz as três dramaturgias vencedoras do Prêmio Solano Trindade 2025, prêmio criado pela Escola e pela Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo.

Os dramaturgos premiados este ano foram: Blendon Cassio, com a peça “Depois do Homem”; Clarissa Roberta, com a peça “Alerta – Estado de PixAÇÃO”; e Ray Ariana, com a peça “Ínterim: Ou Como Despertam os Griôs”.

Leia a entrevista com Clarissa Roberta

O seu texto vencedor foi o “Alerta: Estado de pixAção”. Poderia falar um pouco dele? O que os leitores podem esperar quando o livro chegar em 3/12?

Essa dramaturgia é uma mistura de comédia com drama que apresenta o pixo como um agente estético e político que muda a vida da cidade fictícia São Leôncio. Então vocês podem esperar um texto dramático e cômico que propõe discussões políticas por meio de diálogos. A ideia do texto é mostrar como a chegada do pixo nas paredes da prefeitura dessa cidade altera uma atmosfera que era aparentemente harmoniosa. O pixo comunica “alguém esconde um segredo”. E enquanto alguns querem descobrir o que significa o pixo, outros querem saber quem pixou as paredes da prefeitura, para que essa voz que mobiliza o povo, seja calada.

Como foi o processo de escrita da peça?

Escrevi essa dramaturgia na SP Escola de Teatro, em núcleo, durante o módulo de narratividades, que tinha como foco compreender quais eram os tropicalismos de 2025. Fiquei provocada pelo desejo de pensar quais são as manifestações artísticas que subvertem a ordem social e, ao mesmo tempo, convocam um olhar para as desigualdades que se inserem dentro e fora do contexto urbano. Se voltarmos ao passado, veremos o pixo denunciando a ditadura nos muros e hoje em dia, o movimento ainda grafa as paredes.

Para escrever esse texto me coloquei num estado de presença mais investigadora da cidade. O que dizem as paredes do meu bairro? O que dizem as paredes de São Paulo? Quais são as questões que tem afetado a sociedade atualmente? Com humor, tentei escrever um texto que ia além do dilema “pixar é errado ou não?”, para tentar mostrar como algumas operações de limpeza das paredes, também escondem o que estava escrito nelas antes, como por exemplo “5,20 não”, “Eu tenho fome”, entre outras. Além de estar em situação de olhar mais apurado pela cidade, realizei pesquisas sobre a temática me alimentando de leituras, filmes, documentários, imagens, matérias sobre: o movimento do pixo, o teatro hip hop, mobilização social, zonas autônomas temporárias, as operações de limpeza em diferentes cidades, entre outras.

Por se tratar de um texto de humor, a ideia era criar personagens que pudessem brincar com suas funções, como é o exemplo de Quitéria Cecília, que é poeta e fala por meio de rimas. Durante esse processo, pude ser lida por amigos, integrantes do núcleo, professores, dramaturgos e dramaturgistas que tiveram um olhar atento para o texto, em especial minha querida amiga dramaturgista Luiza Tarzia. Já a definição da temática surgiu quando vi a água da torneira de casa saindo com uma coloração diferente. Aquilo me provocou a pensar numa história fictícia onde o pixo pudesse revelar segredos de uma cidade.

Quais são as suas grandes inspirações dramatúrgicas e literárias e outras inspirações que agregam na sua literatura?

É difícil quantificar todas as pessoas que inspiraram a minha escrita a ser o que ela é hoje, especialmente porque venho de uma lógica em que um texto pode nascer a partir de um gosto, um cheiro, uma imagem. Mas posso fazer um exercício de pensar alguns nomes, correndo o risco de deixar vários de fora, com um foco maior em escritas negras, tendo em vista o foco do prêmio. Quando penso em poesia, sempre me vem a mente: Camila Cristina, Cuti, Manoel de Barros, Mel Duarte, além do movimento dos slams. E ao pensar nos textos que inspiram minha escrita, em geral: Ailton Krenak, Aline Bei, Ana Maria Gonçalves, Antonio Candido, Agatha Christie, Audre Lorde, bell hooks, Carolina Maria de Jesus, Cidinha da Silva, Conceição Evaristo, Cuti, Dione Carlos, Grace Passô, Grada Kilomba, Franz Kafka, Jhonny Salaberg, Leda Maria Martins, Lélia Gonzales, Neide Almeida, Noemi Jaffe, Machado de Assis, Salloma Salomão, o TEN e Zahy Tentehar. Mas a lista é longa.

Como tem sido sua experiência no curso de Dramaturgia da SP Escola de Teatro? O que tem aprendido com colegas e formadores?

Tem sido uma experiência muito linda e enriquecedora. Estar em sala de aula lendo e discutindo dramaturgia me move a pensar em quais histórias quero contar e levar ao mundo. Nesse espaço de diálogo, a gente partilha diferentes olhares sobre escrita e sociedade. Foi ali, na sala de aula, que eu soube que andar em ruas diferentes, comer coisas que nunca comemos, ler outros textos e estar em estado de presença, também pode influenciar a nossa escrita.

Ali também, conheci a importância de narrar histórias que lancem perguntas, que rompam silêncios, que tenham contradições. Uma grande descoberta foi conhecer também o dramaturgismo e a sua relevância. Como provocar? Como alimentar um processo, levando referências diversas, como dar margens, como estar no meio? Na sala, nos corredores, na copa, tenho me sentido muito bem acompanhada por cada integrante da turma, que mostra em seus textos, outras questões, formas de escrita, narrativas. Aprender em roda me movimenta profundamente.

Quais dicas você daria para outras escritoras e escritores negras e negros que desejam escrever novas peças, fazer carreira na dramaturgia e que poderiam participar das próximas edições do prêmio?

Bem, eu diria: Sejam generosas com seus processos, vejam também em vocês ao possibilidade de narrar uma história. Digo isso porque, se ver como alguém que pode contar histórias é um ato subversivo, tendo em vista os vários mecanismos de silenciamento que enfrentamos na sociedade. E a partir do reconhecimento da importância das suas vozes: Escrevam. Escrevam a partir do que é visto, sentido, ouvido. Escrevam a partir de memórias e coisas inventadas. Um som, um acontecimento, uma ideia, uma colagem, podem fazer nascer uma história. Vejam em suas escritas a possibilidade de lançar voz ao mundo. E partilhem essa escrita com alguém. Experimentem serem lidas e mostrar às pessoas suas criações

Digo isso, porque a leitura e apoio de pessoas queridas, me ajudou a reforçar a relevância e gostosura dos meus textos. Muitas vezes é no encontro com o outro que reafirmamos a arte que existe em nós. Por fim, leiam e leiam muito textos variados, estejam atentos no mundo, se alimentem de arte e façam de cada porta aberta uma tentativa. O Prêmio espera vocês.

Recentes

04/08/2025

Inscrições abertas para o curso de extensão gratuito “Dança para além dos muros

01/08/2025

SP Escola de Teatro abre seleção para Bolsa-Oportunidade do 2º semestre de 2025 para seus estudantes

01/08/2025

SP Escola de Teatro inicia semestre letivo com recepção aos estudantes nesse sábado (2)

30/07/2025

SP Música acontece em 7 de agosto com Banda Urutuz

29/07/2025

Inscrições abertas para o curso gratuito de extensão “Criação de temas para trilha sonora: a relação texto-música”

28/07/2025

Inscrições abertas para o curso de extensão gratuito “Introdução ao Teatro Contemporâneo”

28/07/2025

Veja como foi o primeiro dia da Mostra de Circulação dos estudantes da SP Escola de Teatro em Bertioga

25/07/2025

Peça “Galhada”estreia em 8 de agosto na SP Escola de Teatro

25/07/2025

Teatro Por Que Não? faz apresentação gratuita na SP Escola de Teatro nesse sábado (26)

126 de 1039 resultado(s)