Diretor alemão Robert Schuster promove atividades na SP Escola de Teatro; leia nossa entrevista
Durante o mês de novembro, a SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, recebeu a visita do consagrado diretor alemão Robert Schuster.
Promovida pela área de relações internacionais e parcerias da Escola, comandada por Marcio Aquiles, e com apoio da SCEIC-SP e do Ministério da Cultura, o intercâmbio de Schuster rendeu conversas ricas com Ivam Cabral, diretor-executivo da Instituição, e com os coordenadores e formadores da Escola, encontros e conversas com estudantes dos cursos técnicos e também gerou o curso de extensão gratuito “A arte da ação”, promovido ao público entre 10 e 18 de novembro.
Robert Schuster iniciou seus estudos superiores em Teatro e Ciências Culturais na Universidade Humboldt de Berlim, entre 1991 e 1992, antes de se transferir para a Escola Superior de Arte Dramática “Ernst Busch”, onde estudou direção teatral. Foi lá que conheceu Tom Kühnel, com quem formou uma parceria artística duradoura. Suas primeiras montagens rapidamente lhes renderam reconhecimento nacional, sendo apontados como novos talentos do teatro alemão.
O diretor Bernd Wilms, então responsável pelo Teatro Maxim Gorki, em Berlim, percebeu o potencial da dupla, que, em 1994, recebeu o Prêmio Max-Reinhardt da República da Áustria por sua montagem de “A Medida” (Die Maßnahme), de Bertolt Brecht, no bat Theater Berlin. Pouco depois, a produção “Natal na Casa dos Ivanov”, de Alexander Vedensky, apresentada no Maxim Gorki Theater, rendeu-lhes o Prêmio Friedrich-Luft, em Berlim.
Em 1997, Schuster fundou, ao lado de Christian Tschirner, o coletivo de dramaturgia Soeren Voima, que impulsionou suas produções subsequentes. Sua montagem de “Peer Gynt”, de Henrik Ibsen, no Schauspiel Frankfurt, consolidou seu nome no cenário teatral alemão e, no mesmo ano, ele e Kühnel receberam o Prêmio Otto-Kasten, concedido pelos diretores de teatro da Alemanha como incentivo a novos talentos.
Entre 1999 e 2002, Schuster e Kühnel dirigiram o TAT (Theater am Turm), localizado no Bockenheimer Depot, em Frankfurt. Durante esse período, relançaram o projeto experimental experimenta, ampliando o espaço para novas linguagens cênicas. Em 2000, a convite da ONU, apresentaram em Nova York a peça Kontingent, encenada anteriormente na Schaubühne de Berlim, levando sua visão teatral inovadora a um público internacional.
A partir dos anos 2000, Schuster expandiu sua atuação para a direção de óperas, consolidando-se como um diretor independente. Seu trabalho passou por importantes teatros europeus, incluindo o Teatro da Basileia, Teatro de Bremen, Schauspiel Leipzig, Schauspiel Frankfurt, Deutsches Theater Berlin, Teatro de Düsseldorf e Teatro de Freiburg. Em 2001, tornou-se membro da Academia Alemã de Artes Cênicas e, em 2004, assumiu o cargo de professor de direção teatral na Escola Superior de Arte Dramática “Ernst Busch”.
Em 2012, lançou seu primeiro longa-metragem, “Draussen ist Drüben”, um filme autobiográfico que reflete sobre sua infância e juventude na República Democrática Alemã (RDA). Sua montagem de “Os Ratos”, de Gerhart Hauptmann, no Teatro de Freiburg, em 2011, foi amplamente aclamada pela crítica, reforçando sua relevância na cena teatral contemporânea.
A parceria entre a SP Escola de Teatro e Ernst Busch é rica e vem desde 2022, quando a Escola enviou dois estudantes brasileiros a Berlim.
Já em 2024, a Escola recebe Pau Hoff, estudante intercambista da Ernst Busch.
Leia nossa entrevista com Robert Schuster:
Como você conheceu a SP Escola de Teatro e como se deu o seu contato com Marcio Aquiles e com a nossa área de Projetos Internacionais, que levou a esse intercâmbio?
Foi um prazer conhecer o Marcio Aquiles, e nosso contato se deu através do Rodolfo García Vázquez, com quem colaboro intensamente há muito tempo. Já participamos juntos do projeto Alexandria Nova. Foi uma honra receber o convite para esse intercâmbio na Escola.
O que você achou da proposta pedagógica da SP Escola de Teatro durante a sua visita? Você vê algum paralelo ou comparação com os estudos de teatro que encontrou em outros momentos da sua carreira, como na Ernst Busch?
A abordagem educacional da SP Escola de Teatro é única. Já ensinei em quatro continentes, mas devo dizer que nunca encontrei algo como essa escola, com uma abordagem do ensino teatral tão rica, livre, fresca, que trabalha diversos tópicos de maneira tão profunda. Minha estada na Escola me inspirou muitíssimo.
Como foi a sua experiência com os estudantes durante a condução do curso “A Arte da Ação”? Nas conversas com eles, que tipos de aprendizados vocês compartilharam mutuamente?
Foi muito rica, cheia de ideias interessantes e inspirações. Passamos dias com trocas intensas, discussões e exercícios. Sou muito grato pelo interesse dos estudantes no meu curso. Fiquei impressionado pela paixão deles, pela disponibilidade para debater, experimentar juntos. Aprendi muito com a experiência e espero que tenha sido útil para eles também.
Você tem ampla experiência como diretor em instituições como Theater Basel, Theater Bremen, Schauspiel Leipzig, Schauspiel Frankfurt, Deutsches Theater Berlin, Theater Düsseldorf e Theater Freiburg. Quais você considera que são as principais lições e princípios orientadores da encenação contemporânea que são essenciais para a formação de estudantes de direção na SP Escola de Teatro e em outras instituições de artes cênicas no Brasil?
Acredito que o teatro sempre foi brincar, agir. Agora, o agir junto, o brincar junto, está cada vez mais interessante e necessário. A questão é quantas diferentes perspectivas podem ser colocadas juntas em um trabalho. É cada vez mais urgente continuar a agir no coletivo, agir de maneira conjunta, unindo essas muitas perspectivas. Esse olhar do coletivo é o que tem mais atraído meu olhar.
Quais memórias você leva do seu tempo em São Paulo e na SP Escola de Teatro? O que você mais gostou de descobrir por aqui?
Para mim, o mais interessante foi descobrir mais sobre a história da Escola e seu impacto, no bairro, na comunidade, na cidade. O poder do teatro e da arte em transformar seu entorno em São Paulo é impressionante, me impactou profundamente.