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Crítica da peça “Relatos Selvagens”

Crítica da peça “Relatos Selvagens”, texto produzido durante a oficina “Olhares: Poéticas e Possibilidades da Crítica Teatral”, curso gratuito de extensão cultural da SP Escola de Teatro, ministrado por Amilton de Azevedo. A peça foi assistida durante o Festival Satyrianas 2023, em outubro de 2023.

Selvagem. O que se nota quando uma sociedade decadente consegue retroceder toda a história humana, reduzindo-a a idolatria do dinheiro, do sucesso, indo o outro é sempre meu concorrente, quando não, meu inimigo?

“Relatos Selvagens” é uma adaptação do filme de mesmo nome, de 2014. 

A peça conta de eventos onde a dignidade humana já não existe mais; moços e bandidos se confundem numa espécie de “O Conde de Monte-Cristo”. Porém, em “Relatos Selvagens”, a coisa é bem menos civilizada. No contexto deprimente da História em que a decadência é de determinada ordem – que não nos permite que as coisas se desenrolem de forma minimamente lógica e civilizada – é como se estivéssemos bem longe da sociedade em que habitou o século XIX de Alexandre Dumas, onde a vingança era feita de forma organizada, numa trama romântica de uma sociedade da qual os valores “civilizatórios” não apenas ainda estavam dentro do jogo, mas também eram a bússola de todo um imaginário coletivo.

Aqui, na peça com direção de João Hannuch, que assina também a adaptação ao lado de Marcelo Braga, o sublime não está na trama, onde vinganças podem ser tramadas pacientemente junto à emocionante catástrofe relacionada ao genial personagem central e sua vingança contra aqueles todos que combinaram tramar sua queda por inveja. Em “Relatos Selvagens” não temos Dantès, protagonista do romance de Dumas, mas sim personagens que literalmente somem, dilaceram-se em meio à tragédia humana relatada na peça.

Com uma dose de humor, o espetáculo conta quatro histórias, seguindo o roteiro do filme. A linha que liga as histórias é um tipo de barbárie de um capitalismo em decadência, como diria Walter Benjamim. Trata-se da vingança de pessoas humilhadas, sem a nobreza de espírito que havia no “O Conde de Monte-Cristo”. Não temos mais aqui um injustiçado do tipo corcunda de Notre-Dame e “Relatos Selvagens” demonstrou bem esse clima de selvageria com cores vivas e fortes, além de sonoplastia à altura da qualidade da peça. E utilizando o cotidiano atual do espectador como fonte para piadas, o humor não tirou a graveza em que vive a atmosfera da peça. 

Ficha técnica

“Relatos Selvagens”. Direção: João Hannuch; adaptação: João Hannuch e Marcelo Braga; corpo e voz: Laís Marques; coordenação de produção: Laura Carvalho; sonorização: Pedro Nunes e Larissa Dias;  coreografia: Larissa Dias e Julia Chaves; figurino: Júlia Chaves, Laura Carvalho, Hauane Onias e Larissa Dias; cenografia: Isaque Henrique e Rodrigo Brandão.

André Luis estudou filosofia na Universidade Federal de São Paulo.

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